sábado, 4 de dezembro de 2010

Fibromialgia e Eletrotermoterapia

Papel dos Recursos Eletrotermofototerápicos no Tratamento da Fibromialgia



  • Introdução:

Pelo caráter crônico e de múltiplos sintomas da Fibromialgia (FM), o tratamento recomendado aos portadores dessa síndrome é baseado na abordagem interdisciplinar, com intervenções no âmbito físico, farmacológico, cognitivo-comportamental e educacional1.
No âmbito das intervenções físicas, a fisioterapia se destaca pela riqueza de modalidades terapêuticas (cinesioterapia, hidroterapia, eletrotermoterapia, relaxamento, massoterapia e outros)2.
As intervenções por meio da eletrotermofototerapia são utilizadas como parte do programa global de reabilitação, principalmente para alívio da dor1. Com a redução da dor, há, consequentemente, aumento da amplitude de movimento, força muscular, mobilidade, resistência física, habilidade de andar e estado funcional3. Desse modo, teoricamente, a eletrotermofototerapia pode trazer benefícios aos pacientes com FM. Além disso, esses recursos oferecem muitas vantagens, pois são intervenções não-invasivas e rápidas de administrar, resultando em poucos efeitos adversos e contra-indicações4, quando comparadas com intervenções farmacológicas para redução dos sintomas da FM. Contudo, deve-se considerar que, para utilizar esse recursos, é necessário um profissional especializado e visitas periódicas do paciente ao local da intervenção.


  • Desenvolvimento:

Existe um grande número de modalidades eletrotermofototerapêuticas utilizadas na prática clínica da fisioterapia.
As modalidades eletrotermofototerapêuticas podem ser consideradas como recursos, dentre outros (exercícios, medicações, psicoterapia), que, em conjunto, devem compor o tratamento do paciente com FM para se obterem resultados satisfatórios.
Dentre esses recursos temos o laser de baixa potência que é amplamente utilizado em pacientes com desordens osteomioarticulares. Dentre os principais efeitos terapêuticos desse tipo de laser, encontram-se a ação anti-inflamatória, a analgesia e a modulação da atividade celular5. Para a FM o laser é recomendado, principalmente, para o alívio da dor. Como a dor crônica está intimamente relacionada com os outros sintomas da FM, acredita-se que sua redução causaria um efeito cascata para a melhora dos demais. Vale ressaltar que os efeitos dessa terapia são doses dependentes, e elas variam amplamente de 1 a 23J/cm2  2. O estabelecimento da dose ideal deve levar em consideração a espessura da camada tecidual a ser atingida, o tamanho da área afetada, o tipo de laser, a potência utilizada e o tempo de aplicação6.
Outro fator importante para a efetividade do tratamento com o laser é o número de aplicações, sendo recomendada pela World Association for Laser Therapy (WALT), sessões diárias por duas semanas ou em dias intercalados por três ou quatro semanas7.
O ultrassom (US) é utilizado pela fisioterapia por seus efeitos fisiológicos decorrentes de sua ação mecânica térmica. A ação mecânica aumenta a permeabilidade celular, diminui a resposta inflamatória, reduz a dor por meio da diminuição da velocidade de condução nas fibras nervosas e facilita o processo de cicatrização dos tecidos moles2. O US contínuo tem ação térmica que contribui para o aumento da vasodilatação local e, conseqüentemente, melhora da inflamação crônica, reduz o espasmo muscular e dor8. No estudo de Almeida et al. 9, para o US, foram utilizados os parâmetros pulsados a 1MHz e 2,5 W/cm2, não sendo mencionadas a repetição do ciclo de pulso, a área do cabeçote, o tempo e área de aplicação.
A corrente interferencial vetorial isolada (CIV) é uma corrente elétrica que apresenta ondas senoidais alternadas de média freqüência, com amplitude modulada em baixa freqüência, a CIV é capaz de atingir músculos e nervos profundos, estimular a contração ativa, aumentando o fluxo sanguíneo periférico e reduzr a dor9. Quanto à aplicação da CIV, os parâmetros utilizados foram 4000Hz, freqüência modulada de amplitude (AMF) 100Hz, com omissão do tamanho do eletrodo, do tempo e modo de aplicação9.
A utilização do US em conjunto com outra forma de eletroterapia, como a CIV, também conhecida como terapia combinada, promove analgesia localizada em áreas dolorosas previamente detectadas por eletrodiagnóstico8.
Quanto à TENS, sua ação mais reconhecida é a analgesia que ocorre por meio de corrente elétrica de baixo limiar que inibe a transmissão dos estímulos dolorosos na medula espinhal e libera opiácios endógenos, como as endorfinas10. A associação americana de dor considera a TENS como uma medida terapêutica de alta evidência científica4.


Aparelho de TENS



  • Conclusões:

O uso da eletrotermofototerapia no tratamento da FM demonstra efeitos positivos para esses pacientes. Contudo, novos estudos com uma melhor qualidade metodológica devem ser realizados, pois ainda se tem poucas informações a respeito dos seus efeitos adversos, doses de tratamento e total eficiência de sua utilização para potencialização dos resultados clínicos.


Rafael Rabelo Mendes
Fisioterapeuta


  • Referências Bibliográficas:

  1. Gur A. Physical therapy modalities in management of fibromyalgia. Curr Pharm Des. 2006; 12(1): 29-35.
  2. Ricci NA, Dias CNK, Driusso P. A utilização dos recursos eletrotermofototerâpicos no tratamento da síndrome da fibromialgia: uma revisão sistemática. Rev Bras Fisioter. 2010; 14(1): 1-9.
  3. Beckerman H, Bouter LM, van der Heijden GJ, de Bier RA, Koes BW. Efficacy of physiotherapy for musculoskeletal disorders: what can we learn from research¿ Br J Gen Pract. 1993; 43(367):73-77.
  4. Ottawa Panel. Ottawa Panel evidence based clinical practice guidelines for electrotherapy and thermotherapy interventions in the management of rheumatoid arthritis in adults. Phys Ther. 2004; 83(11): 1016-1043.
  5. Tuner J, Hode L, it’s all in the parameters: a critical analysis of some well-known negative studies on low-level lase therapy. J Clin laser Med Surg. 1998; 16(5): 233-236.
  6. Fukuda TY, Malfatti CA. análise da dose do laser de baixa potência em equipamentos nacionais. Rev Bras Fisioter. 2008; 12(1): 70-74.
  7. WAIT-World Association for Laser Therapy [home page na internet]. Recommended anti-inflammatory dosagefor low level laser therapy. Bergem: WALT; atualizada em 2009. Disponível em: http://www.walt.nu/dosage-recommendation.html.
  8. Maggi LE, Omena TP, VonKruger MA, Pereira WCA. Software didático para modelagem do padrão de aquecimento dos tecidos irradiados por ultrassom fisioterapêutico. Rev Bras Fisioter. 2008; 12(3): 204-214.
  9. Almeida TT, Roizenblatt S, Benedito-Silva AA, Tufik S. The effect of combined therapy (ultrasound and interferential current) on pain and sleep in fibromyalgia. Pain. 2006; 104(3): 665-672.
  10. Resende MA, Gonçalves HH, Sabino GS, Pererira SM, Francischi JN. Redução do efeito analgésico da estimulação elétrica nervosa transcutânea de baixa freqüência em ratos tolerantes à morfina. Rev Bras Fisioter. 2006; 10(3): 291-296.

Nenhum comentário:

Postar um comentário