sábado, 4 de dezembro de 2010

Fibromialgia (Para Profissionais da Saúde)


Fibromialgia



  • Conceito:

Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática de etiologia desconhecida, que acomete predominantemente mulheres, caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica, além de sítios anatômicos específicos dolorosos à palpação, chamados de tender points. Freqüentemente, estão associados outros sintomas, como a fadiga, distúrbios do sono, rigidez matinal e distúrbios psicológicos, como a ansiedade e depressão1.

Tender Points

Atualmente sabe-se que a FM é uma forma de reumatismo associada à exarcebação da sensibilidade do indivíduo frente a um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo fato de a FM envolver músculos, tendões e ligamentos. O que não quer dizer que acarrete deformidade física ou outros tipos de seqüela. No entanto, a FM pode prejudicar a qualidade de vida, o desempenho profissional2 e as atividades de vida diária (AVD)3,4.
Diferentes fatores, isolados ou combinados, podem favorecer as manifestações da FM, dentre eles doenças graves, traumas emocionais ou físicos e mudanças hormonais. Assim sendo, uma infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro, podem estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os sintomas da FM podem provocar alterações no humor e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de dor2.


  • Prevalência e Incidência:

As estimativas a respeito da prevalência da FM foram estabelecidas a partir de 1980, tendo como fonte pacientes norte americanos e europeus, variando de 2,1% na prática clínica de família, 5,7% na clínica em geral, 5 a 8 % em pacientes hospitalizados e 4 a 20% em clínicas reumatológicas5.
Senna et al.6 citado numa revisão bibliográfica de Cavalcante et al.7, realizado na cidade de Montes Claros MG, usou uma amostra probabilística por conglomerado composta por 3038 indivíduos. A FM foi a segunda desordem reumática mais freqüente, com prevalência de 2,5%.
Outro estudo8 estima que a prevalência da patologia seja predominantemente do sexo feminino (99,5%), com média de idade entre 52 e 57 anos.
A professora Dra. Suely Roizenblatt9 descreve uma incidência de 1 a cada 3 mulheres, numa faixa etária de 33 a 55 anos.


  • Papel da Fisioterapia:

O tratamento baseia-se no controle sintomatológico. A Fisioterapia tem um importante papel na melhora do controle da dor e no aumento ou manutenção das habilidades funcionais do paciente em casa ou no trabalho, assim como na redução de outros sintomas que lhe causam sofrimento10.
Os exercícios terapêuticos constituem o principal recurso na Fisioterapia para promover a melhora da função física. A grande variedade de exercícios benéficos existentes no tratamento de pacientes com FM demonstra o importante papel que estes desempenham na melhora da qualidade de vida dos pacientes, especialmente quando são respeitados os limites de dor e esforço e, se alcançada a aderência ao programa de exercícios, os ganhos podem ser consideráveis a longo prazo.
Embora os exercícios físicos, de forma geral, sejam considerados benéficos para os pacientes com FM, não são constatadas evidências que explicam os mecanismos pelos quais os exercícios atuam no sentido de aliviar o sintoma primário desta síndrome, ou seja, a dor11.
Os programas de exercícios aeróbicos no tratamento de pacientes com FM são freqüentes12, além do alongamento e fortalecimento muscular13.
Jentoft et al.13 examinaram os efeitos de um programa de condicionamento físico realizado em duas condições diferentes: em piscina com água aquecida e em solo. Os autores verificaram que, em ambas as condições, os pacientes com FM obtiveram melhora dos sintomas, em especial da fadiga, e alcançaram um bem-estar geral, além da capacidade aeróbica. Resultados favoráveis também foram encontrados em relação aos exercícios realizados em água aquecida14.
Turk et al.15 avaliaram a eficácia de um programa de tratamento interdisciplinar, compreendendo a participação de médico, fisioterapeuta, psicólogo e terapeuta ocupacional. Concluíram que o tratamento pode ser eficaz, mantendo- se os ganhos alcançados na terapia por seis meses após o término do tratamento.
A abordagem feita no tratamento de pacientes com FM deve ser, na maioria dos casos, encorajadora. Uma vez que a fisioterapia não objetiva somente o controle da dor, mas também a melhora da capacidade funcional, uma das metas do planejamento fisioterapêutico deve ser o papel educativo, para que os ganhos da intervenção permaneçam a longo prazo, e os pacientes consigam se tornar menos dependentes dos cuidados de saúde.
Rosen16 ressalta a importância de se estabelecer um adequado programa de exercícios para o paciente realizar em casa como suplemento do tratamento. Dessa forma, incentivam- se estilos de vida mais participativos e funcionais, contribuindo para restabelecer a flexibilidade física e emocional do paciente.


  • Conclusão:

A fisioterapia não deve ser somente um meio de alívio da dor, mas também de restauração da função e de estilos de vida funcionais, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes com FM. É importante que o paciente seja um elemento ativo em seu tratamento e que metas mútuas sejam estabelecidas entre o fisioterapeuta e o paciente logo no início do tratamento.
Os programas de exercícios físicos promovem os maiores ganhos na diminuição do impacto dos sintomas da FM na vida dos pacientes. Os exercícios de baixa intensidade, ou aqueles em que o paciente é capaz de identificar o limite de seu esforço e dor, parecem ser os mais efetivos.
Salienta-se também a importância de um trabalho multidisciplinar e educativo no qual os profissionais de saúde, e entre eles o fisioterapeuta, se proponham a informar e instruir corretamente seus pacientes.
Assim, a fisioterapia pode vir a auxiliar no tratamento da FM, promovendo a melhora da dor e do impacto dos outros sintomas, restabelecendo a capacidade física, mantendo a funcionalidade e promovendo a melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Rafael Rabelo Mendes
Fisioterapeuta



  • Referências Bibliográficas:

  1. Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB, Bennett RM, Bombardier C, Goldenberg DL: The American College of Rheumatology 1990. Criteria for the classification of fibromyalgia: Report of the multicenter criteria committee. Arthritis Rheum 33: 160-172, 1990.
  2. www.fibromialgia.com.br
  3. Martinez JE, Atra E, Ferraz MB, Silva PSB: Fibromialgia: aspectos clínicos e   socioeconômicos. Rev Bras Reumatol 32: 225-230, 1992.
      4.  Wolfe TA, Bruusgaard D, Henriksson KG, Littlejohn G, Raspe H, Vaeroy H:   Fibromyalgia and disability. Scan J Rheumatol 24: 112-
118, 1995.
      5.  Júnior EA, Setter CJ, Vallada R. Tratamento Fisioterapêutico na Fibromialgia. Fisioterapia Brasil, São Paulo, v. 3, n. 5, p. 281-284, set/out. 2002
      6.  Senna ER, De Barros AL, Silva EO, et al: Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study using the COPCORD approach. J Rheumatol 31: 594-7, 2004.
      7.  Cavalcante AB, Sauer JF, Chalot SD, Assumpção A, Lage LV, Matsutani A, Marques AP: A prevalência de Fibromialgia: Uma Revisão de Literatura. Ver Brás Remautol, v. 46, n.1, p. 40-48, jan/fev, 2006.
      8.   Helfenstein M, Feldman D. Síndrome da Fibromialgia: Características Clínicas e Associações Com Outras Síndromes Disfuncionais. Ver Brás Reumatol 2002; 42: 8-14.
      9. Mestre e Doutora em Reumatologia. Professora Afiliada da Disciplina de
Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo.
    10.  American Physical Therapy Association (APTA): Guide to Physical Therapist Practice. Phys Ther 81: S32, 2001
    11.  Clark SR, Jones KD, Burckhardt CS, Bennett R: Exercise for patients with fibromyalgia: risks versus benefits. Curr Rheumatol Rep 3: 135- 140, 2001.
    12.   Meiworm L, Jakob E, Walker UA, Peter HH, Keul J: Patients with fibromyalgia  benefit from aerobic endurance exercise. Clin Rheumatol 19: 253-257, 2000.
    13.   Jentoft ES, Kvalvik AG, Mengshoel AM: Effects of pool-based and land-based  aerobic exercise on women with fibromyalgia / chronic widespread muscle pain. Arthritis Care Res 45: 42-47, 2001.
    14.   Mannerkorpi K, Nyberg B, Ahlmen M, Ekdahl C: Pool exercise combined with an education program for patients with fibromyalgia syndrome. A prospective, randomized study. J Rheumatol 27: 2473- 2481, 2000.
    15. Turk DC, Okifuji A, Sinclair JD, Starz TW: Differential responses by psychosocial subgroups of fibromyalgia syndrome patients to an interdisciplinary treatment. Arthritis Care Res 11: 397-404, 1998.
    16.  Rosen NB: Physical medicine and rehabilitation approaches to the management of myofascial pain and fibromyalgia syndromes. Baillieres Clin Rheumatol 8: 881-916, 1994.



Nenhum comentário:

Postar um comentário